Migração: emergentes questões e condições de um mal-estar

Abstract

No presente artigo buscamos compreender o sofrimento experimentado por pessoas migrantes, partindo da proposta de interlocução presente no capítulo O Mal-estar da Migração, que compõe dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da UERJ (OLIVEIRA, 2019, p. 20-39). No capítulo em questão, considera-se a situação de vulnerabilidade social e de violação de direitos humanos, tangenciando aspectos presentes em O Mal-estar na Civilização (FREUD, 1930/1976). Nosso objetivo é aprofundar esse diálogo, utilizando a matriz conceitual psicanalítica para compreender o sofrimento causado ao migrante ao ser confrontado com novas culturas e tratos sociais. Incluímos à discussão a perspectiva sociológica de Norbert Elias em A Sociedade dos Indivíduos (1994) para compreender como os conceitos de indivíduo e sociedade podem ajudar no entendimento da busca do migrante por amparo fora da sua comunidade originária e de que maneira ele molda sua identidade a partir dessa experiência. Numa complexa rede de afetações, o corpo migrante, ao carregar e comunicar seus vínculos, tem em suas práticas um redesenhar de espaços e atitudes que refletem a interação de culturas que, por sua vez, moldam e são moldadas por expressões individuais em um processo coletivo. Os indivíduos aprendem a articular transigências e a apontar questões que circulam neles e através deles, pressionados por condições que a sociedade lhe impõe a serviço de seus ideais culturais, não raro delineando preconceitos étnicos, raciais e de outras naturezas.